Desde que começamos os preparativos de nossa viagem, toda vez que falávamos que iríamos visitar o Líbano a reação era sempre a mesma:
- Líbano? Mas o que vocês vão fazer por lá? Estão loucos?
É claro que se pensarmos que a Síria fica bem ali ao lado e a guerra civil no país estava no ápice da confusão naquele momento, dava até para entender o questionamento, mas tenho a impressão que muito desse sentimento estava enraizado nas pessoas desde que o Líbano foi um dos protagonistas de uma das guerras mais violentas e duradouras em tempos recentes... Pra falar a verdade, até bem pouco tempo eu também tinha certo preconceito e só foi após a leitura de 2 outros blogs de viagens que minhas idéias começaram a mudar, são eles o Dry Everywhere da Adriana Miller (drieverywhere.net) e o Viaggiomondo da Fê Costta (http://www.viaggio-mondo.com). E foi justamente nesses 2 blogs que pegamos o contato de um cara que faria toda a diferença em nossa passagem pelo país, o Hussein Abdallah (www.lebanontours.weebly.com). Entramos em contato durante os preparativos no Brasil. A resposta sempre foi rápida e deixamos agendados 2 dias de passeios e o translado do aeroporto ao hotel.
No nosso voo entre a Jordânia e o Líbano confesso que pensei diversas vezes se tínhamos realmente tomado a decisão certa, afinal 2 mísseis tinham atingido Beirute, mas foi só a cidade aparecer pela janela do avião que esses pensamentos foram ficando para trás. Ao sobrevoar a Jordânia e Israel apenas cor de terra, deserto... O Líbano se mostrava verde, colorido, alegre...
A passagem pela alfândega não foi muito fácil. Não entendemos direito se era necessário pagar alguma taxa e qual fila deveríamos pegar. Após uma longa espera, era chegada nossa vez. O Joalbo passou fácil, mas eu e o Thomas fomos encaminhados para outro balcão. Vai entender! A funcionária que nos atendeu nos falou que o outro carinha deveria estar com preguiça, pois ele mesmo poderia ter feito. É bom lembrar que se você tiver o carimbo de Israel no passaporte, nada feito. Na saída lá estava o Hussein com a plaquinha. Alívio imediato!
Trânsito pesado até o hotel. Não deve nada aos congestionamentos da grande São Paulo. Pelo caminho foi ele nos dando algumas explicações e possibilidades de roteiro. Disse que o único lugar que não aconselhava ir era Tripoli. Ok, recomendação aceita!
Em certo ponto, já próximo ao hotel começamos a ver prédios com marcas de tiros da época da guerra civil. Uma loucura que durou de 1975 a 1990. A maior parte da cidade foi restaurada, mas alguns prédios foram deixados, talvez para servir de exemplo para que não se cometa os mesmos erros...
Chegamos ao hotel (não me recordo o nome) que ficava no bairro de Hamra, um lugar cheio de bares, restaurantes, faculdades e gente nas ruas. Combinamos com o Hussein o passeio para o dia seguinte e ele nos deu algumas dicas para passarmos a tarde. Uma coisa interessante do Líbano é que o dólar americano é aceito como moeda corrente e nem precisa se preocupar em trocar dinheiro. O câmbio é fixo. Você paga em dólar e recebe o troco em libras libanesas, sem precisar ficar fazendo cálculo para saber se o câmbio está justo ou não. Comemos alguma coisa ali por perto mesmo. Acho que fomos os únicos que não experimentamos o narguilé (ou shisha), era fumaça pra todo o lado. O lugar era bem moderno e cheio de camuflagens por cima de nossas cabeças. Decoração ou proteção?
Após o almoço, saimos para dar uma volta pela Corniche. Logo que iniciamos o passeio fomos abordados por um grupo de crianças que queria engraxar nossos tênis! Com a negativa, pediram dinheiro pois estavam com fome, aí eram crianças sírias orfãs e por fim começaram a fingir que choravam (mas fingir da maneira mais falsa possível) e rir das nossas caras de assustados. Só nos deixaram em paz após uma intervenção um pouco mais rude de nossa parte... Alguma semelhança? Andamos até as Pingeons Rocks e sentamos para tomar umas cervejas e curtir o pôr do sol. Voltamos para o hotel por entre barricadas, baterias anti-aéreas, tanques e soldados... Dia seguinte tínhamos agenda cheia: Jeita Grotto, Byblos e Harissa.