Acordamos bem cedo e começamos a preparação. Sensação de leveza, afinal conseguiríamos furar o bloqueio das manifestações no Peru e chegaríamos na manhã do dia seguinte em Cusco. Ainda poderíamos aproveitar um dia inteiro antes da partida para trilha rumo à Machu Picchu. Às 10 horas chegamos em frente à agência da Dunya. Mas peraí, cadê todo mundo??? A porta estava aberta, mas não havia ninguém... Bom, ela deve ter saído para tomar um chá... E o tempo passando... E nada de aparecer alguém! Começamos a ter aquela sensação de que algo errado estava acontecendo! As pessoas começaram a nos perguntar o que esperávamos. Quando explicávamos, tivemos várias respostas: a Dunya já foi levar o pessoal. Vocês tem que ir até a fronteira. Ela foi ali e já volta, vou avisar... E nada acontecia! Resolvi perguntar numa agência ao lado. A resposta foi categórica! Precisávamos pegar uma van até Kasani (cidade boliviana da fronteira), passar pela fronteira a pé e depois procurar pela Dunya no porto de Yunguyo (cidade peruana da fronteira). A Dunya estaria lá nos esperando. Bom, não era nada do que havia sido combinado, mas concordamos que não havia opção mais sensata... Pegamos a van e em poucos minutos chegamos na fronteira. Passamos pelo controle de passaportes e seguimos a pé para o Peru. A sensação que tínhamos era de que estávamos numa zona de guerra e a qualquer momento ouviríamos os tiros... Marcas de fogo no chão... Passamos! Controle de passaportes no Peru e descobrimos como chegar no porto. Fica bem perto e não foi necessário carro para nos levar. Quando chegamos ao local indicado mais dúvida! Aquilo era mesmo um porto? Parecia apenas a reunião de um monte de gente que não tinha o que fazer e ficava à beira do lago... Os locais nos confirmaram, o barco rápido sairia às 12h (no Peru tivemos que atrasar o relógio em 1 hora). E nada da Dunya... Vimos os barcos lentos saindo e isso pelo menos nos trouxe algum alívio. Restava esperar... Tivemos a companhia de um amigo especial!
E nada do barco... E nada da Dunya... Confirmamos mais algumas vezes que o barco rápido sairia de lá! De repente uma certa badalação e começamos a ouvir que viria uma banda que traria Marijuana... De novo não! Não foi ontem, mas vai ser hoje! A polícia vai acabar pegando a gente apenas por mais uma vez estar no lugar errado... Os músicos chegam e desistem do barco lento. Muito tempo sem comer, não aguentariam! Agora teríamos que disputar no braço o direito de subir no barco rápido! Isso se a gente realmente tivesse direito... Após algum tempo descobrimos que o nome da banda era Maria Juana e não levavam nada de Marijuana! Pelo que percebemos eles eram bem famosos por lá... Notamos que todos que estavam por lá começaram a se dirigir a um outro local. O barco rápido sairia de um outro "porto". Mas por que não nos falaram antes? Seguimos o movimento. Quase meio-dia e nem sinal do tal barco rápido. Quando perguntávamos a resposta era a mesma: ele surge de repente, quase voando como um avião jogando água para todos os lados! Ele é o barco rápido! Finalmente descobrimos o responsável pelo embarque (ele já estava no novo porto). Mostrei nossas passagens e ele perguntou com cara de assustado: onde vocês compraram isso? Olhei para o Joalbo e o Jean, era o fim da aventura! Resolvi responder mesmo assim: foi com a Dunya! Com a Dunya? Sem problemas então! A mulher realmente era poderosa! Após alguns instantes ela ligou perguntando se os brasileiros estavam por lá... Ufa! Eis que surge o barco rápido! Quase voando como um avião, jogando água para todos os lados... Não há um deck para embarque e é preciso entrar num barco a remo que nos leva. Interessante salientar que se paga 2 soles por esse serviço, ou seja, tenham dinheiro trocado para não ter que ir a nado! Poltronas extremamente confortáveis! Foram 4 horas de viagem bem tranquilas! Fomos recebido em Puno pelos parentes do responsável pelo embarque, pois já haviam comprado nossas passagens de ônibus leito para Cusco. Oitenta soles cada! É mais caro que comprar diretamente na rodoviária, mas era mais garantido e não tínhamos muito tempo para arriscar. Puno é uma cidade feia, mas percebe-se que é muito mais organizada que as cidades bolivianas. O trânsito então nem se fala!
Fomos para a rodoviária para aguardar. Nosso ônibus sairia apenas às 21 horas. Após uma longa espera, era chegada a hora de partir. Passaríamos a noite inteira no ônibus, mas pelo menos os bancos realmente pareciam camas!
Partimos no horário exato! Temperatura agradável, luzes apagadas! Perfeito! Após mais ou menos 1 hora de viagem o ônibus para. Alguns minutos sem entendermos o que se passava até que o motorista avisou pelo sistema de som: rodovia fechada por manifestação em Juliaca nas próximas 48 horas, vamos voltar à Puno! Desolação total dentro do ônibus! Já era nossa trilha! Não conseguiríamos chegar à Cusco em tempo... Durante alguns minutos minha cabeça ficou a mil tentando achar uma solução... Em vão! Nada a fazer, era dormir um pouco até Puno. Seria uma noite daquelas...
Estava num sono gostoso quando o Jean me cutucou: estamos há mais de 1 hora nessa estrada de terra. Não tínhamos passado por ela... De vez em quando o ônibus parava e o motorista perguntava alguma coisa para alguém... Esperança renovada! Ele decidiu pegar um caminho alternativo! A estrada era cheia de obstáculos e barrancos e tínhamos que parar a cada instante para que o ajudante do motorista desse as orientações necessárias para continuarmos a viagem! Num desses momento o ônibus ficou preso! Todos para fora do ônibus! Três horas da manhã num frio de rachar!!! Escuridão total! Já estávamos quase congelando quando finalmente o motorista conseguiu sair da armadilha...
Nesse meio tempo conseguimos nos comunicar com o Glenn, que já tinha chegado em Cusco e teria que fazer a negociação com a agência que nos levaria na trilha (ainda não tínhamos fechado nada). O restante da viagem foi tranquilo. Ao invés de 8 horas, levamos 17 horas até Cusco. Pelo menos chegamos! Depois ficamos sabendo que a manifestação em Juliaca foi bem violenta e 5 pessoas morreram naquele dia... Cusco é uma bela cidade! Alegre, jovem, agitada... A bandeira inca está por todos os lados! Inicialmente achávamos que estava havendo algum movimento LGBT na cidade, uma vez que a bandeira é muito parecida... Essa dúvida deve ser unânime pela cara que o taxista fez quando perguntamos sobre isso...
Chegamos ao hotel, encontramos com o Glenn, passeamos pela cidade, almoçamos, resolvemos os últimos detalhes para a trilha (agência amazin adventures e aluguel de sacos de dormir) e nos recolhemos. Pena que aproveitamos pouco da cidade... Dia seguinte acordaríamos às 4 horas da madrugada para o início da grande aventura. Rumo à Machu Picchu!
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