Acordamos cedo mais uma vez, tomamos o café e quando chegamos à entrada do hotel, o Hussein já estava à nossa espera. O dia seria bem longo, com grandes trechos de deslocamento. Confirmamos com o Hussein sobre a segurança do passeio, afinal chegaríamos bem próximo à fronteira com a Síria e estaríamos em alguns locais controlados pelo Hezbollah. A mesma resposta: tudo tranquilo! Nenhum problema!
Seguimos para o Vale do Beqaa, um vale muito fértil do Líbano, caminho até a cidade de Anjaar. Fizemos uma paradinha para fotos. Olhando apenas a paisagem, ninguém diria que estávamos no Líbano.
Anjaar é uma cidade com praticamente toda a população formada por armênios. As ruínas não impressionam tanto, uma vez que a maioria das construções foi completamente destruída. O que mais chamava nossa atenção era a proximidade com a Síria, logo atrás das montanhas. A fronteira oficial ficava a apenas 1 km de onde estávamos… Na entrada do sítio arqueológico existe uma pequena lojinha de artesanato e produtos típicos armênios.
Um breve descanso e seguimos nosso passeio rumo à Baalbek. E a partir daqui a coisa ficou um pouco mais tensa… Pegamos a estrada, levaríamos em torno de 1 hora e meia. Pelo caminho muitas barracas que o Hussein nos dizia ser de ciganos, mas sinceramente, pela quantidade de pessoas e proximidade com a fronteira, nos pareceu muito mais campos de refugiados sírios. A rodovia era muito bem preservada, sem nenhum buraco, pista dupla. De repente, uma certa confusão no caminho, um grave acidente. Tinha acabado de acontecer! Os libaneses dirigem loucamente, falando e enviando mensagens pelos celulares. Surpreende não vermos mais acidentes como aquele com vítimas fatais… A cada passo que dávamos em direção à Baalbek, percebíamos nitidamente a diferença: cartazes de propaganda política com candidatos de armas em punhos! Pistolas, bombas e metralhadoras! Assustador. Não havia dúvidas, estávamos num reduto do Hezbollah. Tratei de deixar minha câmera bem escondidinha, não tinha o menor interesse de ser questionado sobre fotos proibidas. No caminho passamos por algumas barreiras militares, mas não fomos parados em nenhuma. Chegamos em Baalbek e fomos direto ao sítio arqueológico. Nas proximidades, diversas lojinhas de artesanato e lembranças. Todo mundo tentava nos vender camisetas amarelas com palavras de amor ao Hezbollah e desenhos de soldados e armas. Negamos gentilmente. Fico imaginando se algum turista ocidental compra esse tipo de souvenir… Compramos as entradas e nos ofereceram serviço de um guia por 20 dólares americanos (para os três). Acabamos aceitando a proposta e seguimos o simpático velhinho… As ruínas de Baalbek realmente impressionam. Além da grandiosidade, a conservação é muito boa. As principais construções são os templos de Júpiter e Baco. As explicações do simpático velhinho até que estavam interessantes até o momento em que ele começou a falar a cada intervalo: vocês combinaram 20 dólares, mas fica ao seu critério. Se acharem que mereço mais, fiquem à vontade! Não estou de brincadeira, ele deve ter repetido umas 15 vezes essa mesma frase! It's up to you! Bem no finalzinho do tour, quando demos os 20 dólares (e ele repetiu mais uma vez a fatídica frase), ouvimos sons de tiros ao longe… Bom, eu não ouvi, pois era o único que ainda prestava atenção no senhorzinho. Cheguei a duvidar que seriam tiros mesmo, porém mais tarde confirmaríamos. Rebeldes sírios faziam disparos na região, tentando evitar a retomada pelas forças nacionais! Hora de partir! O Hussein chegou a perguntar se queríamos ver mais alguma coisa na cidade, se queríamos almoçar… Não, não! Vamos para Ksara!
Fomos deixando Baalbek para trás… Os cartazes estilo Rambo foram sumindo, nossa respiração foi voltando ao normal. Barreira militar. Mandaram encostar dessa vez. Passaportes e aí o soldado começou a falar em árabe com o Hussein. Parecia meio bravo, não sorria. Nosso motorista com um sorriso meio amarelo. Devolveu os passaportes e nos mandou seguir. Perguntamos o que ele tinha falado, ao que o Hussein respondeu: Queria saber se vocês comeram as esfihas de Baalbek, são as melhores! Ah tá, conta outra que essa não colou…
Ksara é a vinícola mais importante do Líbano. Eles se orgulham de ter vinhos premiados. Fizemos um pequeno tour com degustação de seus vinhos. Não pagamos nada pelo tour. Nossa guia foi a Madonna! Uma jovem libanesa com bons conhecimentos de inglês e francês.
Degustação terminada, hora de voltar para o hotel e esperar até nossa saída rumo ao aeroporto. Na madrugada partiríamos para Turquia encontrar com a parte feminina da equipe.
O Líbano foi uma grata surpresa para nós, mas depois dos tiros, Hezbollah e proximidade com a Guerra civil na Síria, era um certo alívio poder sair do país. O Hussein nos levou até o aeroporto. Um grande cara! Só quis receber o dinheiro de todos os passeios no final de tudo. Na hora do check in na Turkish em Beirute, resolvi tentar um upgrade de classe. Era meu aniversário! Nada mais natural num voo vazio! Cheguei até a atendente e perguntei:
- Será que consigo um upgrade, afinal é meu aniversário?!
- Claro que não!!! Mas pense num tom ríspido…
E lá seguimos os três na maneira mochileiro econômico. Próxima parada Capadócia!