quarta-feira, 14 de julho de 2010

Maratona de Paris

A idéia de participar desse grande evento surgiu durante a meia-maratona de Salvador em 2006. Meu sogro iria correr e eu no alto dos meus 30 anos, achei que conseguiria acompanhá-lo mesmo sem praticar uma atividade física regular há algum tempo. Fiasco! Podemos definir assim minha participação na prova soteropolitana! Não cheguei nem nos 3 km. Para quem não sabe a meia-maratona tem 21 km. Naquele dia fiz contato com um treinador e decidi correr a maratona de Paris que aconteceria em 6 meses. Ele tentou me dissuadir dizendo que 6 meses eram insuficientes para uma competição como a maratona (42 km e 195 metros). É evidente que não me convenceu! Os treinamentos começaram e em vários momentos cheguei a pensar que realmente não conseguiria ir tão longe. Mas continuei... Corridas solitárias pelas madrugadas (antes de ir para os plantões), acompanhamento com nutricionista e musculação. Durante essa fase, a maior distância que percorri foram 30 km e é exatamente assim nos preparativos para os 42 km. Estava bem e comecei a ficar entusiasmado. O tempo foi passando, me mudei para Brasília ("nesse país lugar melhor não há...") e segui minha preparação. A troca de informações com mais 3 companheiros foi fundamental, meu sogro Glenn com toda experiência de diversas competições, o Sidão que a essa altura já estava machucado e era dúvida para a prova e o Luís Cláudio de Salvador que treinava de forma mais independente, mas com um excelente embasamento teórico-prático.
Após 6 meses de muita dedicação chegou o grande dia, 15 de abril de 2007. Dia de primavera com clima agradável. Aproximadamente 30.000 corredores! Após o aquecimento fomos para o meio da galera. Momento mágico: correr em Champs-Elysées. Literalmente! O Sidão decidiu tentar a sorte e entrou para a corrida. Ouvimos o tão esperado som do início, mas peraí, não era para começar a correr? Se você for um atleta de elite, sim. Se for como a grande maioria dos mortais, relaxe. Leva algum tempo para que consiga dar os primeiros passos... Iniciada a corrida tratei de zerar meu cronômetro para que pudesse desempenhar o plano traçado pelo meu treinador. Um ritmo para cada fase da prova. Acreditem, se não fizerem dessa forma, não chegam até o final! Até os 10 km tudo tranquilo. Muita festa pelo caminho, a cada km bandas tocando. O plano estava sendo executado perfeitamente. Conhecer cada passagem da cidade desta forma foi fantástico. Jardins des Tulleries, Rivoli... Já estava nos 15 km e fôlego para mais 100. Minha camisa tinha uma bandeira do Brasil e ouvi diversas vezes o grito: Brasil, Brasil! Meia-maratona, 21 km. Foi-se o tempo em que não consegui nem completar 3 km. Começamos a margear o Sena, tunéis, sobe e desce. Chegava a barreira dos 30 km, marco físico e mental para todo maratonista! Nunca tinha ido além disso... E exatamente nesse momento fui aterrorizado por uma dor intensa e limitante no joelho. Passou um filme na minha cabeça. Seis meses jogados fora. Não conseguia imaginar um meio de continuar com aquela dor, todo o plano estava perdido. Não era possível manter o ritmo e minha velocidade parecia de uma tartaruga em fim de carreira! Com a diminuição do ritmo, houve diminuição da dor e resolvi continuar até onde desse. A volta era maior e não tinha dinheiro para o metrô... Ouvi muitos gritos de "Allez Claudio" que também me ajudaram a seguir em frente. Corremos com o nome nas costas e o povo ao redor incentiva o tempo todo! Foram 12 km de dor e superação. Nem conseguia mais admirar o que estava em volta. Quando faltavam 195 metros consegui forças para fazer pose para a foto e acelerar um pouco. Foram 4 horas cravadas. Nem mais, nem menos! Fui recebido por alguma alma caridosa que me trouxe uma maça, água, tratou de arrancar o chip do meu tênis e sumiu! Ninguém conhecido em volta. Mal conseguia andar. Fui para o ponto de encontro. Quando vi a primeira pessoa conhecida caí num choro inexplicável. Exaustão física e mental impressionantes! Subir ou descer escadas era um suplício. Tratamos de ir ao primeiro McDonald's que houvesse pela frente (eram 6 meses sem sanduíches). Reencontro com a família (Sissi, Glenn, Magaly e Sidão) e partimos para o descanso. Dia seguinte partiríamos para uma viagem de carro pelo Vale do Loire (em breve escrevo sobre isso). Foi a primeira vez e provavelmente a última que corri dessa forma. No final valeu cada minuto gasto nos treinamentos e na prova. Nunca achei e continuo não achando a Maratona uma coisa fisiológica, mas pelo menos tenho mais uma história para contar...

Um comentário:

  1. Muito bem!!! Cacco atleta de uma maratona inteira!!! continue assim, "Allez Cacco!"

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